dilluns, d’agost 18, 2014

[ gz ] O tempo dos monstros

Artigo publicado na revista Tempos Novos


Quatro vagas de mobilizaçom democratizadora caracterizam a política do último médio século. A primeira, que desde os sesenta vinha qüestionando o mando franquista, obrigou a operar un cámbio de régime que mudou a dictadura militar por umha democracia liberal homologável às da Europa occidental. Esta operaçom de engenheria política, conhecida como Transición española, serviu para actualizar o mando capitalista ao tempo que continha o desafio crecente de umha multitude de subjectividades antagonistas às que, polo geral, identificamos como “(novos) movimientos sociais”
 
Foram os sesenta e setenta, de feito, anos de umha ruptura constituinte que se expressava subjectivamente com umha complexidade cada vez maior: estudantes, mulleres e moitos outros protagonismos irrumpiam no final da ditadura. Controlar este desbordamento requeria de umha governança capaz de incluir, polas canles do governo representativo, os excessos de subjectividade próprios da escissom entre constituiçons formal e material da sociedade. O resultado final, como é sabido, foi a Constituiçom espanhola de 1978 coa sua democracia de partidos.

Umha vez instaurado, consolidado e institucionalizado o novo régime, a mobilizaçom social declinou. As avantages evidentes no passo de umha ditadura militar a umha democracia liberal, ou o feche de estruturas políticas que se seguiu após a maiorias absolutas do 82, o 86 e, de facto, o 89; mas, sobretodo, o recrutamento massivo de quadros políticos nos movimentos da época para fazer viável a política de partido, mermou o impacto das duas vagas de mobilizaçom que haveriam de seguir.

Tanto na primeira vaga da democracia (entre mediados dos oitenta cos ciclos contra a OTAN, a selectividade ou o 14D, por exemplo) como na segunda, polo geral identificada polo contexto global de emergência do altermundialismo (LOU, Prestige, Guerra de Iraq, etc-), o régime desfrutou de umhas cómodas marges nas que levar a termo o projecto neoliberal. Umha esquerra de partido e sindical, polo demais funcionarizada, subvencionada e contenta com ser gestora da sua própria derrota, apoltronou-se no régime de 1978 namentres toda umha geraçom, simbólicamente identificável co Cojo Mantecas, era enviada a precariedade de por vida (e nisto seguimos).

Assi as cousas, o 15M vem marcar a rutura coa que Guillem Martínez deu en chamar, tam atinado, Cultura de la Transición. Após o 15M a idea de rutura constituinte foi colhendo corpo numha sucessom de ciclos que artelhavam sinergicamente umha quarta vaga de mobilizaçons agora síquem de desbordar o régime de 1978. Sem o éxito do 15M nom se entende a recta final de Zapatero, a sua blindage do pago da déveda por meio da reforma constitucional express pactada por PSOE e PP e, por riba de qualesquer outra consideraçom, umha derrota autoinflingida em data tam simbólica como o próprio 2oN.

A maioria absoluta do PP que começa no 20N é tambem o início de umha nova etapa de pressom crecente nas ruas e bloqueo institucional ao amparo do Governo Rajoy. No par de anos que se seguiram os repertórios do 15M mudam e os ciclos se sucedem: rodea-se o Congreso, irrumpem as mareas, estoupa o Gamonal... Dous anos de intensiva repressom e restricçom das liberdades públicas que se concretam num endurecimento feito a medida do PP, multas e penas de cárcere que procuram afogar todo antagonismo, etc. Para o outono passado as energias e o esgotamento activista faciam o movimiento moito mais sensível e frágil às habituais acusaçons (científicamente infundadas) de desmobilizaçom. O risco de acabar acreditando numha profecia que se autocumprise ia em aumento e nom eram poucos quem para esse momento se entregavam às paixons tristes (sectarismos ideológicos, burnouts ou “queimes” activistas, delírios insurreccionalistas, etc.).

Foi daquela quando, no horizonte das eleiçons europeas, mais acuciou um gesto que alterasse o guiom previsto pola própria lógica do régime. A realizaçom dos resultados previstos daquela nas enquisas e dados por seguros nos marcos interpretativos dos media (bipartidismo oficial de PP e PSOE castigado polo bipartidismo de rempraço de UPyD e IU) teria sido um revés dificilmente superável para a política de movimiento. Nesse contexto assina-se o manifesto Mover ficha que dá pé ao lançamento do que se conhecerá de seguida como Podemos.

Baixo este nome som moitas as leituras que moram num mesmo acontecimiento e mesmo hoje, após as eleiçons europeas, vivimos um intenso debate e pugna pola significaçom hegemónica dos resultados eleitorais, mas, sobretodo, por caracterizar esse “objecto político nom identificado” chamado Podemos, assi como os seus precedentes (CUP ou Partido Pirata), coetáneos (Partido X), e secuelas (Guanyem Barcelona). Avançamos já umha hipótese: Podemos é um gesto antagonista de reapertura do horizonte político no que um conjunto de notáveis (Iglesias, Monedero, Errejón, etc.) lançam umha proposta de mobilizaçom cívica de cara às eleiçons europeas que dé ao traste coa crónica de um resultado eleitoral anunciado.

En efeito, o gesto Podemos trata a um tempo de experimentar coa modalidade de agência política (qüestionando a centralidade do partido) e favorecer novos ciclos de loitas (Can Vies, por exemplo, já como resposta inmediata no contexto eleitoral) por meio de alterar os equilíbrios de poder que fai possível interferir na mais importante via de accesso formal ao régime: os comícios. Nom é para nada casual, de feito, que ao igual que o 15M ou a Diada do 2012, fosse na perspectiva de umha convocatória eleitoral que irrumpiu Podemos.

Mais ainda, tampoco se pode entender Guanyem Barcelona, a seguinte mutaçom das interfazes do movimiento no governo representativo, sem comprender o processo de experimentaçom conjunto que comporta o desbordamento democrático de esta quarta vaga de mobilizaçons. No caso do processo que se visibiliza na figura de Ada Colau assistimos à produçom de umha interfaz mais complexa ainda, na que baixo o significante-vector “confluência” aponta-se, de facto, à eventual subsunçom da política de partido na política de movimento (igual que antes a política de notável fora subsumida na política de partido).

Quadratura do círculo? Ainda é demasiado cedo para sabermos qual será o resultado final. Porém, o impacto do factor Podemos no contexto posteleitoral, provocando reajustes da envergadura da abdicaçom, a demissom de Rubalcaba, umha eventual modificaçom da eleiçom dos alcaldes, etc., anima a pensar —particularmente em Catalunya e, mais ainda, na cidade de Barcelona— que é possível dar coa forma institucional de umha interfaz à altura das esigências de cámbio político que demandam os tempos. Ao cabo, de esta quarta vaga de mobilizaçons, saira-se com umha democracia reforçada ou baixo o mando reconfigurado do que noutro tempo se chamava “democradura”. A fase expressiva do disenso passou. Ganhar ou nom ganhar é agora a qüestom.